Pista De Dança

Adriana Calcanhotto

Quando criança

Me assoprou no ouvido um motorista

Que os bons não se curvam

E, eu,

Confuso

Aqui nesta pista de dança

Perco o tino

Espio a vertigem

Do chão que gira

Tal qual

Parafuso

E o tapete tira debaixo dos meus pés

Piro

Nesta pista de dança

Curva que rodopia

Sinto que perco um pino

Não sei localizar se na cabeça

Esqueço a meta da reta

E fico firme no leme

Que a reta é torta

Re

Rainha

Bispo

Cavalo

Torre

Peão

Sarro de vez o alvo

Tiro um fino com o destino

E me movimento

Ao acaso do azar ou da sorte

No tabuleiro de xadrez

Extasiado

Piso

Hipnotizo

Mimetizo a dança das estrelas

Aqui neste point

A espiral de fumaça me deixa louco

E a toalha felpuda suja me enxuga o suor do rosto

Aqui nesta rave

Narro a rapsódia de uma tribo misteriosa

Imito o rodopio de pião bambo

ê, ê, ê tumbalelê

é o jongo do cateretê

é o samba

é o mambo

é o tangolomango

é o baste estaca

é o jungle

é o tecno

é o etno

Redemoinho de ilusão em ilusão

Como a lua tonta, suada e fria

Que do crescente ao minguante varia

E inicia e finda

E finda e inicia e vice-versa

ê, ê, ê tumbalelê

Nesta pista de dança

Pista de símios

Pista de clowns

Pista de covers

Pista de clones

Pista de sirenes

Pista de sereias

Pista de insones

ê, ê, ê tumbalelê

é o jongo do cateretê

é o samba

é o mambo

é o tangolomango

é o baste estaca

é o jungle

é o tecno

é o etno

Ah, ah, ah, ah

Eu piro

Nesta pista de dança

Eu piso

Nesta pista de dança

Eu giro

Nesta pista de dança

Nesta pista de dança

ê, ê, ê tumbalelê

Nesta pista de dança