Avôhai

Zé Ramalho

Um velho cruza a soleira de botas longas

De barbas longas, de ouro o brilho do seu colar

Na laje fria onde coarava

Sua camisa e seu alforje de caçador

Oh meu velho e invisível avôhai !

Oh meu velho e indivisível avôhai !

Neblina turva e brilhante em meu cérebro coágulos de sol

Amanita matutina e que transparente cortina ao meu redor

Se eu disser que é meio sabido, você diz que é meio pior

E pior do que planeta quando perde o girassol

é o terço de brilhante nos dedos de minha avó

E nunca mais eu tive medo da porteira

Nem também da companheira que nunca dormia só



Avôhai...

Avôhai...



O brejo cruza a poeira, de fato existe

Um tom mais leve na palidez desse pessoal

Pares de olhos tão profundos

Que amargam as pessoas que fitar

Mas que bebem sua vida, sua alma, na altura que mandar

São os olhos, são as asas, cabelos de

Avôhai.....

Na pedra de turmalina e no terreiro da usina eu me criei

Voava de madrugada e na cratera condenada eu me calei

Se eu calei foi de tristeza, você cala por calar

E calado vai ficando, só fala quando eu mandar

Rebuscando a consciência, com medo de viajar

Até o meio da cabeça do cometa, girando na carrapeta

No jogo de improvisar

Entrecortando eu sigo dentro a linha reta

Eu tenho a palavra certa

Pra doutor não reclamar

Avôhai.....!