Restolho

Veiga Mafalda

Geme o restolho, triste e solitário


a embalar a noite escura e fria


e a perder-se no olhar da ventania


que canta ao tom do velho campanário





Geme o restolho, preso de saudade


esquecido, enlouquecido, dominado


escondido entre as sombras do montado


sem forças e sem cor e sem vontade





Geme o restolho, a transpirar de chuva


nos campos que a ceifeira mutilou


dormindo em velhos sonhos que sonhou


na alma a mágoa enorme, intensa, aguda





Mas é preciso morrer e nascer de novo


semear no pó e voltar a colher


há que ser trigo, depois ser restolho


há que penar para aprender a viver





e a vida não é existir sem mais nada


a vida não é dia sim, dia não


é feita em cada entrega alucinada


prá receber daquilo que aumenta o coração





Geme o restolho, a transpirar de chuva


nos campos que a ceifeira mutilou


dormindo em velhos sonhos que sonhou


na alma a mágoa enorme, intensa, aguda





Mas é preciso morrer e nascer de novo


semear no pó e voltar a colher


há que ser trigo, depois ser restolho


há que penar para aprender a viver





e a vida não é existir sem mais nada


a vida não é dia sim, dia não


é feita em cada entrega alucinada


prá receber daquilo que aumenta o coração